2022 chegou e todas as análises e planejamentos para o ano começaram. No entanto, os fretes internacionais se tornaram uma das principais preocupações do comércio global. Os custos elevados têm encarecido as despesas dos importadores, com aumentos de mais de 70%.
A pandemia provocou choques de oferta e demanda na economia global, mas com os estímulos dos governos nacionais para reativar suas economias houve um desequilíbrio no mercado. A demanda de bens aumentou consideravelmente comparada à serviços, que ainda estão muitos restritos pela pandemia ou sofreram mudança no comportamento do consumidor com a compra de serviços online. Isto provocou um salto na demanda de navios em portos em todo o mundo. Dado a incapacidade do setor de suprir esta demanda no tempo necessário, aumentou-se a indisponibilidade, o que, consequentemente, aumentou os preços.
O mesmo acontece no mercado de fretes aéreos, onde a abertura das fronteiras aumentou a demanda por voos de passageiros, e diminuiu o espaço para as cargas. Além disso, parte da demanda reprimida pela falta de containers foi direcionada aos aviões, já que em alguns casos o custo é válido frente à escassez de produtos e perda de vendas.
No ano de 2021, por exemplo, foram demandados mais containers no primeiro semestre do que no período pré-pandemia, como mostra o ISL (Institute of Shipping Economics and Logistics). Não obstante, o tempo de processos nos portos aumentou consideravelmente, pois as medidas contra a Covid-19 também reduziram o número de funcionários nos portos e aumentaram as restrições. Por mais que a maioria dos países esteja voltando a se abrir ao comércio, sabemos que não há uma solução a curto prazo, visto também as novas ondas e diferentes cepas do coronavírus.
O Brasil nesse cenário ainda é mais prejudicado. Por ser um país fora das principais rotas do comércio exterior, acaba ficando no fim das cadeias logísticas e se tornando mais vulnerável frente aos países mais ricos, pois nossa inflação aumenta e a rentabilidade das empresas é reduzida.
Frente a tantos cenários caóticos, como se planejar para 2022?
Orçamento e previsão de valores
Na etapa de orçamentos da sua empresa, é importante colocar os pés no chão. Converse com parceiros do mercado e entenda a média de fretes/kg em 2021 por origem/destino, e quais meses sofreram maior impacto, fazendo uma análise com os acontecimentos do mundo em cada época que ocorreram. Prever os fretes é tão difícil quanto prever o valor do dólar, mas utilizar o ano de 2021 como base para suas análises pode ser um bom caminho, considerando que este foi o primeiro ano após o estouro a crise sanitária com reaquecimento econômico. Lembre-se de colocar o fator aumento de preços na conta.
Planejamento a longo prazo
Na etapa de planejamento, sempre são considerados tempos de produção de cada fornecedor, tempo logístico, etc, para um planejamento adequado de produção, por exemplo.
Em cenários de crise, no entanto, é de extrema importância considerar o risco logístico quantificado. Dado a escassez de containers, por exemplo, um transit time pode dobrar de tempo. Toda a cadeia é impactada pela escassez, até mesmo seu fornecedor, que ao não receber sua matéria prima, não lhe entrega o seu pedido.
Fretes aéreos também entram nessa lógica. Mesmo sendo mais rápidos, a baixa oferta frente a demanda faz com que ocorram muitos overbookings e muitas cargas fiquem para trás, aumentando o tempo logístico inesperadamente.
Análises de risco são necessárias para entender o impacto de crises mundiais na sua rotina de planejamento e produção/distribuição, mas, além de entendê-las, traduzi-las em números e prazos para uma melhor tomada de decisão. Em quantas semanas devo antecipar a colocação do meu pedido de compra, considerando que meu fornecedor também sofre com problema de abastecimento?
Deixar o óbvio um pouco de lado
Profissionais de comércio exterior geralmente acham que já viram de tudo, pela grande quantidade de problemas que acontecem no dia a dia das operações. No entanto, é raro encontrar empresas e pessoas que tenham a capacidade de pensar em soluções não convencionais. Em cenários de crise, estas oportunidades podem ser a chave para uma operação bem-sucedida.
Mudanças de perspectiva também ajudam. Aquela rota que você sempre trabalha pela grande gama de opções, pode se tornar sua segunda ou terceira opção caso seja feita uma análise que exiba rotas menos populares porém mais atrativas por terem demandas menores.
Utilizar recursos existentes mudando sua finalidade básica podem ser opções também. Já considerou usar um container NOR (containers refrigerados que não estão operantes) para baratear sua operação e ter mais opção?
Mapeamento de rede
A diversificação de fornecedores é algo comum, mas geralmente não encabeçada pela localização. Com as dificuldades atuais da logística internacional, a busca por fornecedores mais próximos de casa aumentou, também sendo uma forma de reduzir a dependência a um único fornecedor. Além disso, dividir grandes cadeias de suprimentos em estruturas menores e mais ágeis é também uma mudança de modelo interessante. Expandir e dividir, para ampliar sem perder qualidade.
Vimos aqui, portanto, que nada adianta temer a crise, pois gostando ou não teremos que trabalhar com ela. O melhor a se fazer é preparar-se, assim como fizemos nos últimos tempos, para enfrentar os problemas da melhor forma possível.
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